"Deixa me ouvir o que não ouço...
Não é a brisa ou o arvoredo;
É outra coisa intercalada...
É qualquer coisa que não posso
Ouvir senão em segredo,
E que talvez não seja nada...
Deixa me ouvir...
Não fales alto!
Um momento...
Depois o amor, se quiseres...
Agora cala!
Ténue, longínquo sobressalto
Que substitui a dor,
Que inquieta e embala...
O quê?
Só a brisa entre a folhagem?
Talvez... Só um canto pressentido?
Não sei, mas custa amar depois...
Sim, torna em mim, e a paisagem
E a verdadeira brisa, ruído...
Vejo te, somos dois..."
[Fernando Pessoa]
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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